quinta-feira, 4 de julho de 2013

Não sou domesticável.

Marcelo Arcanjo de Jesus
                                                                       
 Já faz algum tempo que percebi que não sou domesticável. Na verdade, nenhum animal realmente o é.
É uma grande ilusão acharmos que poderemos possuir o outro e que este será por inteiro nosso.
Um dia perceberemos que nunca fomos donos de coisa alguma, porque também não somos donos de nós.
Por isso, não posso me satisfazer com um único amor e achar que isso me basta.
Não posso cometer também a tolice de ficar em um único lugar, se tenho o mundo inteiro para ir.
Não posso me conter a falar ou fazer algo limitado, pois descobri que não há em mim limitação.
Não posso gastar inutilmente cada dia que a vida me cede, pois cada dia é único e insubstituível.
Também Não devo me privar de fazer o que quero, simplesmente por medo de ser criticado por alguém que nem sabe por que faz isso.
Não posso permitir que nada ou ninguém tire de mim a felicidade e tenho que viver cada dia com a certeza de que cabe somente a eu encontrá-la e mantê-la sempre por perto.
Não devo desistir de buscar novos horizontes, apenas porque pessoas sem objetivos me falaram ou falam que talvez eu não os encontre.
Não posso fazer da vida uma peça teatral e repetir seguidas vezes atos ensaiados e previsíveis.
Descobri que a felicidade e o prazer se vestem nas pessoas e pra isso não é preciso que essas sejam dessa ou daquela opção. Inclusive, pouca importância tem a opção de alguém.
Aprendi a ver a vida em tudo à minha volta e sei que ela irá muito além do meu entendimento.
Devo fazer na minha vida experiências dia após dia e desenvolver fórmulas que proporcionem trazer satisfação, bem estar, paz e amor a mim e a outros.
Não posso me limitar a essa ou aquela religião, pois descobri que Deus não precisa de templo de concreto, mas de alguém que simplesmente o ame e que possa amar a todas as formas de vida existentes.
Não posso deixar de falar ou fazer qualquer coisa que eu ache necessária, pois preciso lembrar que sou mortal e que como tal, já nasci sentenciado a morrer.
Não posso temer coisa alguma, pois consegui perceber que tudo está em minha cabeça e que eu posso dominá-la.
Sei que a única forma de viver eternamente é construindo amizades verdadeiras e tão sólidas quanto muralhas de pedras.
Não posso dizer ou achar que sou bom, pois somente o outro poderá ver isso em mim. Aliás, o que é mesmo bondade? Alguém realmente sabe?
Não sou o amor. Mas posso ser a residência dele e deixá-lo morar em mim enquanto viver.
Não posso ser limitado a esse ou aquele assunto ou conhecimento, pois tenho certeza de que há em mim espaço pra saber todas as coisas.
E por fim, mesmo que eu não possa fazer eterna a minha vida, poderei viver com intensidade e sabedoria o tempo que me foi dado. E quando a morte chegar até mim levará uma certeza: fui o nada que se tornou tudo.


A vida que nos falta ter...

Marcelo Arcanjo de Jesus

Todas as buscas e inquietudes da espécie humana, talvez sejam explicadas pelo desejo de serem eternos e abundantes em fortunas, amor e paz.
Nenhum de nós se conforma com a adversidade ou a ideia de que algumas coisas podem sair do nosso controle ou vontade.
Diferente de qualquer outro animal, nós passamos toda a vida recusando os cuidados e favores cedidos pela natureza e, assim, sempre buscando formas alternativas de sobrevivência.
Não há em nós o equilíbrio necessário para termos uma vida dosada de sabedoria e amor.
Tudo em nós é desequilibrado, insano e insensível.
Dizemos que amamos, porém queremos ter e possuir o outro e não damos importância para os sentimentos e vontades deste.
Dizemos ser educados e cordiais, porém por motivos banais somos capazes de cometermos as maiores loucuras e sandices.
Professamos e dizemos ser amantes da paz, mas na verdade é de violência e maldades que vivemos.
Estamos transbordando de arrogância e egoísmo, mas só somos capazes de enxergar o defeito que há nos outros.
Na busca incessante por riquezas materiais deixamos de viver a beleza e simplicidade que há na vida.
Afastamos-nos de pessoas que amamos, por motivos fúteis e nem nos damos à oportunidade de sermos por estas, amados.
Perdemos muito tempo criticando o próximo, sendo preconceituosos e nos esquecemos de que a nossa vida escorre por nossas mãos como a areia no vento.
Quantas vezes gastamos inutilmente o precioso tempo que temos em coisas que não nos renderá nada.
Somos capazes de falar vários idiomas, porém não temos o discernimento de ouvir e compreender a voz da consciência.
Queremos a liberdade e nos esquecemos de que ela só existe se houver sabedoria.
Temos em nós as respostas para todas as nossas perguntas, mas não as encontramos porque vivemos no labirinto da razão.
Se observássemos mais a natureza, não precisaríamos de remédios para dormir.
Se respeitássemos o nosso semelhante, não precisaríamos de leis que nos punem e condenam.
Quantas palavras deixamos de falar, ou as falamos de mais;
Quantas maldades fizemos ou fazemos aos outros;
Quanta bondade deixamos de usar;
E quanta sabedoria foi por nós, desprezada.

No fim de tudo, restará somente o vergonhoso e eterno silêncio.

À morte que é sempre um começo!

 Marcelo Arcanjo de Jesus

Morrer é o maior temor de quem vive. Talvez seja pelo mistério que sempre cercou o homem.
Nenhuma espécie aceita tão fácil esse tão temido e inevitável fim.
A explicação pra tal medo deve-se às expectativas de que todos querem ser eternos.
Para o ser humano a resposta pra o medo é que os homens passam praticamente toda a vida em busca de sucesso e dinheiro e quando conseguem o que querem, não aceitam a morte, pois se prepararam para viver com se nunca fossem morrer e até os que se dizem preparados, não se entregam com tanta facilidade.
Cientificamente a morte é o cessar do corpo em sua complexidade celular e deve ser encarada como algo comum e natural.
Talvez seja ela nossa maior aliada, pois não permite que a vida seja monótona e o medo de morrer faz o homem aproveitar cada vez mais o estar vivo. O faz viver com intensidade e sem tanto comodismo.
É ela a solução imediata e definitiva para os perversos e para os que sucumbem na dor, é o alívio e descanso necessário.
Não dá pra pensar na vida ignorando a morte. Até porque a vida é necessariamente o seu oposto.
Há os que morrem para proporcionar vida a outros; os que vivem como se nunca fossem morrer e até alguns que apenas existem e que não é possível distinguir neles nenhuma das duas coisas.
São os apegos do homem à vida que tem distorcido a beleza que há no morrer e os faz esquecer de que as dores, doenças, tristezas e demais males que o assolam, são cessados nos que morrem.
Também não se pode esquecer a importância da morte para o perfeito equilíbrio do mundo e o grande e maravilhoso mistério que ela proporciona a todas as formas de vida que disso dependem.
Aos que acreditam em uma vida superior a morte é a porta.
De qualquer forma existem várias perguntas e questionamentos a cerca do morrer, mas nosso maior consolo é saber que Deus é a verdadeira vida e também a razão da vida e da morte. Por isso todos que Dele se aproximam jamais morrerão, mas farão uma passagem dessa vida para outra muito melhor.
A morte serve apenas para que todos desfrutem as transições entre essa e outras vidas, pois ela é sem dúvida alguma o começo de tudo.



À vida que habita em nós!

            Marcelo Arcanjo de Jesus

É estranho perceber que somos todos mortais.
Já nascemos sentenciados a partir, e tudo pode abreviar esse tempo.
Somos tão acomodados ou mesmo acostumados com essa ideia, que não nos assustamos mais com a afirmação de que nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos.
Cada homem traz sobre si a responsabilidade social de fazer valer a vida que possui, e essa cobrança, muita das vezes, o distancia do mais importante, que é procurar descobrir a razão de se estar aqui.
Tudo à nossa volta possui um sentido ou função. Até mesmo as coisas mais simples, como uma caneta ou um copo. Porém o ser humano, com toda sua complexidade, tem o grande desafio de por si só, ou movido pelas ideias alheias, descobrir a sua função e importância, ou seja, pra quê ele serve e onde será usado.
Alguns se envolvem tanto com afazeres ou tarefas cotidianas, que até chegam a esquecer que não viverão pra sempre e que todos os excessos são prejudiciais.
Outros não se incomodam em estacionarem por aí e apenas esperarem pacientemente que a vida lhes forneça o mínimo necessário para sobreviverem.
Há aqueles que fazem da vida um passeio a um jardim. E aqueles que fazem dela uma caminhada na beira de um precipício.
De qualquer forma, nunca conseguiremos entender o que a vida espera de nós, ou o que nós esperamos mesmo da vida.
Não existem fórmulas ou manuais a serem seguidos que sejam corretos ou seguros se estes forem feitos por humanos.
Contudo, vive melhor, ou mais feliz, o homem que sabe dosar a responsabilidade com o prazer. Que reclama pouco e que se doa mais. Que aproveita bem as oportunidades e que tem expectativas diárias.
Alguns poucos são capazes de observar os mínimos detalhes da natureza, como por exemplo, o caminhar das formigas; o cantar dos pássaros nas árvores; a beleza das flores; o pôr do sol ou as folhas que caem.
Os menos tolerantes passam boa parte de sua existência a reclamar da chuva; do sol; da lama; do calor; do frio; do barulho; do silêncio; da companhia; da solidão e de qualquer coisa que os infortune, como se a vida tivesse a obrigação de ceder ao homem as sua vontades.
Independente do que nós pensarmos ou quisermos, a vida seguirá seu curso e será sempre superior aos nossos desejos e inquietudes, pois ela é eterna e abundante, e todo o restante é limitado e sentenciado ao fim.
A vida é uma estrada e nós somos apenas viajantes. Ela ficará e nós acertadamente partiremos.

O homem e a razão.

                            Marcelo Arcanjo de Jesus

O homem se envaideceu e vive em busca de sucesso e reconhecimento. É com certeza a mais estranha das espécies, pois perdeu a sensibilidade no processo transitório entre a irracionalidade e a razão.
Faz da vida um laboratório experimental e se esquece de que talvez não tenha outra chance de realmente colocar em prática o que ensaiou.
Vive desejos secretos dos mais perversos, mas os esconde sob roupas caras e algumas doses de educação.
Guarda dentro de si um monstro que só é contido com interesses próprios.
Quer sempre ganhar e passa a vida a contabilizar as perdas e os ganhos.
Diferente de outras espécies animais que copulam apenas com o fim reprodutivo e que as fêmeas exalam um cheiro característico que atraem os machos, os seres humanos transam por prazer e se preocupam mesmo é com o ‘cheiro’ exalado das carteiras e contas bancárias dos que os cercam.
Querem mesmo é usufruir o outro sem pudor ou muita preocupação com o sentimento alheio e fazem isso com suas teses falsas de que só querem fazer o bem.
Ao contrário das outras espécies que não poluem e não destroem o meio onde vivem, o homem se apega tanto ao dinheiro que pouco importará a destruição causada por ele.
Teriam de repente um futuro melhor se acreditassem que a vida vai muito além do que possa conter sua estrutura biológica e que se usassem todos os recursos que dispõem com sabedoria seriam com certeza uma espécie evoluída e sábia.

Não há dúvidas de que o amor seja a solução para libertar o homem de sua tola ilusão.

Carta ao Homem...

    Marcelo Arcanjo de Jesus

Ninguém é capaz de viver sozinho.
Por mais independente que pareça ser um homem, ele sempre precisará do outro.
Já nascemos sob os cuidados alheios e passaremos toda a vida, que por sinal também não é nossa, recebendo cuidados de alguém.
Mesmo sabendo disso, estamos cercados por pessoas que se acham completos e suficientes. Essas são arrogantes e não dosam as palavras que usam. Não são gratos a quase nada e acham que os menos favorecidos são obrigados a se submeterem aos seus caprichos.
Outros agradecem por qualquer coisa. Estes não precisam de muito para viver e acreditam que a vida apenas lhes basta.
Talvez o que possuímos de pior em nós seja a racionalidade, pois em nenhuma outra espécie existem seres tão estranhos quanto os seres humanos.
Queremos sempre ganhar e pouco importará o sofrimento que isso poderá causar aos outros.
Dizemos que amamos, porém por qualquer motivo nos transformamos nos piores inimigos e nem sequer nos incomodamos com a dor que poderemos causar.
Passamos a vida toda em busca de dinheiro pra com ele tentarmos comprar quem nos agrada e se alguém discorda de nós, aí então tentaremos esmagá-lo como a um verme.
Não há em nós bondade alguma. Somos abundantes em fingimentos e interesses próprios.
Se pensássemos sobre nossa fragilidade, logo mudaríamos de ideia em relação à nossa ingênua auto-suficiência.

Somos todos iguais, independente do que possuirmos, pois o nosso maior bem é mesmo viver.

Aos nossos jovens!


                                                                                          Marcelo Arcanjo de Jesus

Quando eu era criança as brincadeiras eram mais simples e ingênuas. As amizades sinceras e duradouras e o respeito estava presente em todos.
Professores eram autoridades máximas e as pessoas mais velhas eram tidas como mais sábias e experientes.
Não me lembro se os jovens eram tão vingativos quanto os de hoje e inclusive me recordo que quando brigávamos qualquer um dos pais ou responsáveis, que por acaso presenciavam aquilo davam broncas e conselhos e um tempo depois, lá estávamos de novo brincando como se nada tivesse acontecido.
Namoro era bem diferente do que se ver hoje. Embora tivessem os espertinhos, a grande maioria não se arriscava sequer a falar pra alguém a quem amava os seus sentimentos. Muito menos insinuar algo mais avançado.
Brincadeiras eram mesmo simples, como gude, pipa, bola, carrinho de material reciclado, boneca de pano, enfim bem distante dessa modernidade tecnológica que hoje nos cerca.
Hoje percebo que tive uma infância sem nenhuma tecnologia, porém maravilhosa.
Morava em uma cidade muito pequena e tinha uma vida simples e ingênua.
Cometia travessuras das mais inusitadas, mas no fim tudo ficava bem!
Agora, me pergunto se a modernidade que hoje nos envolve é realmente necessária ou benéfica!
Vejo que as nossas crianças já não são tão ingênuas. Que os nossos idosos não são tão respeitados, ou mesmo que muitos deles passaram a cometer crimes ou até incentivar a outros que os façam. Que as pessoas que deveriam nos proteger se tornaram corruptas e violentas e que as escolas são na verdade pontos de vendas de drogas, salas de prostituição e criadoras e mantenedoras de facções e quadrilhas.
O que há conosco que permitimos colocar em mãos desonestas o mundo em que vivemos?
Por que ainda achamos que o dinheiro é mais importante que o caráter e o amor?
Alguém aí, por favor, me diga que eu estou apenas tendo um pesadelo e que acordarei pra uma realidade diferente!
Até quando iremos ficar sentados em frente à televisão e chocados visualizarmos o horror que está à nossa volta?
Entendo que o avanço e modernidade são importantes, mas isso não significa que precisamos destruir tudo e todos.
Onde ficaram as bolinhas de gudes; a bola; a pipa; a criança dentro do homem?
Onde está o homem?