Marcelo Arcanjo de Jesus
Já
faz algum tempo que percebi que não sou domesticável. Na verdade, nenhum animal
realmente o é.
É
uma grande ilusão acharmos que poderemos possuir o outro e que este será por
inteiro nosso.
Um
dia perceberemos que nunca fomos donos de coisa alguma, porque também não somos
donos de nós.
Por
isso, não posso me satisfazer com um único amor e achar que isso me basta.
Não
posso cometer também a tolice de ficar em um único lugar, se tenho o mundo
inteiro para ir.
Não
posso me conter a falar ou fazer algo limitado, pois descobri que não há em mim
limitação.
Não
posso gastar inutilmente cada dia que a vida me cede, pois cada dia é único e
insubstituível.
Também
Não devo me privar de fazer o que quero, simplesmente por medo de ser criticado
por alguém que nem sabe por que faz isso.
Não
posso permitir que nada ou ninguém tire de mim a felicidade e tenho que viver
cada dia com a certeza de que cabe somente a eu encontrá-la e mantê-la sempre
por perto.
Não
devo desistir de buscar novos horizontes, apenas porque pessoas sem objetivos
me falaram ou falam que talvez eu não os encontre.
Não
posso fazer da vida uma peça teatral e repetir seguidas vezes atos ensaiados e
previsíveis.
Descobri
que a felicidade e o prazer se vestem nas pessoas e pra isso não é preciso que
essas sejam dessa ou daquela opção. Inclusive, pouca importância tem a opção de
alguém.
Aprendi
a ver a vida em tudo à minha volta e sei que ela irá muito além do meu
entendimento.
Devo
fazer na minha vida experiências dia após dia e desenvolver fórmulas que proporcionem
trazer satisfação, bem estar, paz e amor a mim e a outros.
Não
posso me limitar a essa ou aquela religião, pois descobri que Deus não precisa
de templo de concreto, mas de alguém que simplesmente o ame e que possa amar a
todas as formas de vida existentes.
Não
posso deixar de falar ou fazer qualquer coisa que eu ache necessária, pois
preciso lembrar que sou mortal e que como tal, já nasci sentenciado a morrer.
Não
posso temer coisa alguma, pois consegui perceber que tudo está em minha cabeça
e que eu posso dominá-la.
Sei
que a única forma de viver eternamente é construindo amizades verdadeiras e tão
sólidas quanto muralhas de pedras.
Não
posso dizer ou achar que sou bom, pois somente o outro poderá ver isso em mim.
Aliás, o que é mesmo bondade? Alguém realmente sabe?
Não
sou o amor. Mas posso ser a residência dele e deixá-lo morar em mim enquanto
viver.
Não
posso ser limitado a esse ou aquele assunto ou conhecimento, pois tenho certeza
de que há em mim espaço pra saber todas as coisas.
E
por fim, mesmo que eu não possa fazer eterna a minha vida, poderei viver com
intensidade e sabedoria o tempo que me foi dado. E quando a morte chegar até
mim levará uma certeza: fui o nada que se tornou tudo.